O técnico
O nervosismo, o cansaço e o suor no rosto. Até parecia que estavam todos notando a minha confusão interna. No mesmo momento em que eu tentava abrir aquela porta, os vizinhos reparavam-me, algumas crianças dos vizinhos olhavam-me rindo da minha dificuldade com aquela porta, ao entrar notei que ela não estava, ele não estava, as crianças também não. Entrei dentro daquela casa vazia, a TV estava fora da tomada, os tapetes estavam no lugar, o cheiro do ambiente demonstrava que a casa havia ficado fechada por muito tempo. Os móveis estavam empoeirados e as louças lavadas. O retrato da família feliz era o detalhe que destacava-se naquela sala, na estante tinha objetos que lembravam as viagens que haviam realizado e a pequena estátua de buda demonstrava a religião que acreditavam, a cortina bege da janela que deixou-me em dúvidas se era cor ou sujeira. No quarto das crianças haviam brinquedos espalhados, tudo indicava que eram apenas duas, um casal, o menino era fã do Batman, vários brinquedos desse personagem e um poster dele ainda na parede em cima da sua cama. A menina era fã da Barbie, em cima da cama dela havia três Barbie e outros objetos de maquiagem e de casinha. A menina devia ser mais nova que o menino. Um berço no quarto fez-me pensar que existia uma terceira criança, um bebe. Tinha uma fralda dentro do berço e o cheiro de do perfume mamãe bebe estava fraquinho no ambiente. Ao entrar no quarto do casal vi uma cama box grande e um guarda-roupa enorme de uma parede a outra. Na parede tinha um retrato do casal, o ambiente organizado e a poeira sobre a escrivaninha que estava próxima a cama. Não havia nada demais no quarto deles, sai, fechei a porta e fui para a cozinha, abri a geladeira para pegar água, não pude deixar de perceber que água era a única coisa que existira, além de um pote de manteiga pela metade. Naquele momento hesitei se não estava na casa errada. O endereço estava certo e isso me deixava confiante de que não havia confundido.
Sentei na mesa no centro da cozinha, coloquei as mãos na cabeça como em um gesto de desespero, tudo estava certo mas algo estava errado. O meu lapso e a minha hesitação me fizeram se confundir ao tomar aquele copo de água, olhei para o copo e havia uma teia de aranha dentro do meu copo com água. Fui até a pia e coloquei para fora a água com a teia e me enojei por alguns segundos. A ânsia de vômito embrulhou o meu estômago quando me deparei com o meu desespero em tomar aquela água com tamanha sede que não deu tempo de observar que dentro daquele copo estava uma teia de aranha que se escondia como que um cisco que me impedia de tirá-la antes de colocar a água dentro do copo. Eu poderia ter engolido aquela água por tamanha sede sem ao menos fazer questão de que o copo estivesse totalmente limpo ou poderia ter pegado outro copo, porém, a minha desatenção deveu-se a minha sede que pareceu maior do que minha necessidade de ter um copo limpo, ao passo que após tomar o gole da água que me fez sentir o gosto da teia que não seria saudável ao meu estômago, minha sede parece menor do que minha necessidade de tomar água limpa.
Olhei no visor do meu celular, a bateria estava acabando e já estava na hora de fazer o que eu tinha vindo fazer e continuar o meu trabalho em outra casa. Algo veio me a mente, o que eu vim fazer aqui? Como eu estava tantas horas detalhando aquele lar e esquecendo-me do que eu vim fazer, não havia animais que me pudesse distrair, o que eu vim fazer nesse lugar? Em minhas mãos estavam um computador e algumas chaves, eu vestia o uniforme da minha empresa, eu sabia quem eu era, eu sabia onde eu trabalhava mas eu esqueci-me de dizer que ao entrar naquela casa eu procurava pelo roteador e eu iria testá-lo para saber se era um problema técnico de rede ou no aparelho, eu era um técnico e eu precisava terminar o meu serviço naquele lar antes de ir para outro. Localizei o roteador, estava coberto de poeira sobre a estante daquela sala perto da TV, eu liguei o aparelho, consegui fazer algumas configurações que o deixou funcionando normalmente, testei várias vezes e a conexão estava estabelecida e o Wi-fi pronto a ser usado. O pó era tanto que fui até a lavanderia, molhei um pano de limpar casa e passei naquele aparelho, acabei limpando toda a estante.
Tentei abrir a porta para ir embora, não percebi que havia trancado, estava tão difícil de abrir como quando eu entrei ali dentro. Eu começava a ficar nervoso pois sabia que estava atrasado para as outras visitas técnicas, eu estava com muitas dificuldades que suava frio, a chave se quebrou de tanto eu torcer para abrir, apenas um pedaço estava na minha mão e outro resto na fechadura, como poderia aquilo está acontecendo justo naquele momento em que estava com muita pressa de ir embora. Quando vi que não teria jeito comecei a gritar para ver se algum morador ouvia os meus gritos e ligaria para alguém, para a família dona daquela casa ou para os bombeiros ou talvez algum morador vizinho poderia arrombar a porta por fora. Verifiquei todas as janelas da casa e todas tinham grades, eu não tinha a chave da porta dos fundos, eu estava totalmente trancado em uma casa estranha, o meu celular descarregou a bateria. Incomunicável. Encontrei dois carregadores em cima da geladeira e nenhum deles era compatível com o meu celular. Eu gritei, gritei, gritei e gritei. Ninguém parecia me ouvir, anoiteceu, nenhum deles chegavam, escurecia e nada. A energia dentro daquela casa foi embora, houve um apagão, as luzes se apagaram. A chuva se anunciava pelos trovões, a chuva veio e eu me vi sozinho dentro de uma casa estranha e sem nenhum de seus moradores. Pelas gavetas da cozinha eu procurava por uma vela, procurava por algo que pudesse acender para trazer luz para dentro de casa. Eles não tinham uma vela, pode isso? Como uma família não guarda uma única vela para uma emergência. Essas famílias modernas pensam que nunca irão precisar estarem preparados para acontecimentos casuais. A chuva foi passageira, os relâmpagos também, eu esperava que a energia voltasse, eu esperava que a família chegasse porém, eles estavam em outra casa durante dias cuidando para outras pessoas enquanto suas própria casa estava abandonada. Não iriam chegar ali, não enquanto eu esperava tanto. Ouvi umas crianças rindo pelo lado de fora da casa, comecei a gritar, as crianças diziam coisas do tipo que estavam adorando a brincadeira, que brincadeira seria, eu não sabia. Até que dentro da casa a luz começou a acender e apagar, como se estivessem sendo testada a energia ou a paciência de alguém. Não demorou muito para mim entender que as crianças estavam manipulando o padrão daquela casa, como uma espécie de brincadeira de mal gosto elas faziam isso para me deixar com medo e me fazer gritar enquanto caiam na gargalhada.
Como em um desses liga e desliga padrão eu estava tirando a geladeira da tomada pois tinha medo disso fazê-la queimar, levei um choque que me paralisou, cai no chão e senti uma grande onda de energia ser descarregada sobre mim, fiquei imóvel, não conseguia me mexer. Meus movimentos foram tirados de mim e caído no chão não havia esperanças de alguém me encontrar tão cedo. O dia amanheceu, eu estava ali, não havia morrido mas não poderia movimentar-me. As crianças ficaram com medo do meu silêncio que confessaram a seus pais o que estavam fazendo a mim. Os pais conseguiram chamar os bombeiros que conseguiram arrombar a porta e me levar ao hospital. Eu fiquei paralisado por dias. Depois voltei ao normal, conseguia conversar e ter uma vida normal, logo poderia voltar ao trabalho se quisesse.
Sentei na mesa no centro da cozinha, coloquei as mãos na cabeça como em um gesto de desespero, tudo estava certo mas algo estava errado. O meu lapso e a minha hesitação me fizeram se confundir ao tomar aquele copo de água, olhei para o copo e havia uma teia de aranha dentro do meu copo com água. Fui até a pia e coloquei para fora a água com a teia e me enojei por alguns segundos. A ânsia de vômito embrulhou o meu estômago quando me deparei com o meu desespero em tomar aquela água com tamanha sede que não deu tempo de observar que dentro daquele copo estava uma teia de aranha que se escondia como que um cisco que me impedia de tirá-la antes de colocar a água dentro do copo. Eu poderia ter engolido aquela água por tamanha sede sem ao menos fazer questão de que o copo estivesse totalmente limpo ou poderia ter pegado outro copo, porém, a minha desatenção deveu-se a minha sede que pareceu maior do que minha necessidade de ter um copo limpo, ao passo que após tomar o gole da água que me fez sentir o gosto da teia que não seria saudável ao meu estômago, minha sede parece menor do que minha necessidade de tomar água limpa.
Olhei no visor do meu celular, a bateria estava acabando e já estava na hora de fazer o que eu tinha vindo fazer e continuar o meu trabalho em outra casa. Algo veio me a mente, o que eu vim fazer aqui? Como eu estava tantas horas detalhando aquele lar e esquecendo-me do que eu vim fazer, não havia animais que me pudesse distrair, o que eu vim fazer nesse lugar? Em minhas mãos estavam um computador e algumas chaves, eu vestia o uniforme da minha empresa, eu sabia quem eu era, eu sabia onde eu trabalhava mas eu esqueci-me de dizer que ao entrar naquela casa eu procurava pelo roteador e eu iria testá-lo para saber se era um problema técnico de rede ou no aparelho, eu era um técnico e eu precisava terminar o meu serviço naquele lar antes de ir para outro. Localizei o roteador, estava coberto de poeira sobre a estante daquela sala perto da TV, eu liguei o aparelho, consegui fazer algumas configurações que o deixou funcionando normalmente, testei várias vezes e a conexão estava estabelecida e o Wi-fi pronto a ser usado. O pó era tanto que fui até a lavanderia, molhei um pano de limpar casa e passei naquele aparelho, acabei limpando toda a estante.
Tentei abrir a porta para ir embora, não percebi que havia trancado, estava tão difícil de abrir como quando eu entrei ali dentro. Eu começava a ficar nervoso pois sabia que estava atrasado para as outras visitas técnicas, eu estava com muitas dificuldades que suava frio, a chave se quebrou de tanto eu torcer para abrir, apenas um pedaço estava na minha mão e outro resto na fechadura, como poderia aquilo está acontecendo justo naquele momento em que estava com muita pressa de ir embora. Quando vi que não teria jeito comecei a gritar para ver se algum morador ouvia os meus gritos e ligaria para alguém, para a família dona daquela casa ou para os bombeiros ou talvez algum morador vizinho poderia arrombar a porta por fora. Verifiquei todas as janelas da casa e todas tinham grades, eu não tinha a chave da porta dos fundos, eu estava totalmente trancado em uma casa estranha, o meu celular descarregou a bateria. Incomunicável. Encontrei dois carregadores em cima da geladeira e nenhum deles era compatível com o meu celular. Eu gritei, gritei, gritei e gritei. Ninguém parecia me ouvir, anoiteceu, nenhum deles chegavam, escurecia e nada. A energia dentro daquela casa foi embora, houve um apagão, as luzes se apagaram. A chuva se anunciava pelos trovões, a chuva veio e eu me vi sozinho dentro de uma casa estranha e sem nenhum de seus moradores. Pelas gavetas da cozinha eu procurava por uma vela, procurava por algo que pudesse acender para trazer luz para dentro de casa. Eles não tinham uma vela, pode isso? Como uma família não guarda uma única vela para uma emergência. Essas famílias modernas pensam que nunca irão precisar estarem preparados para acontecimentos casuais. A chuva foi passageira, os relâmpagos também, eu esperava que a energia voltasse, eu esperava que a família chegasse porém, eles estavam em outra casa durante dias cuidando para outras pessoas enquanto suas própria casa estava abandonada. Não iriam chegar ali, não enquanto eu esperava tanto. Ouvi umas crianças rindo pelo lado de fora da casa, comecei a gritar, as crianças diziam coisas do tipo que estavam adorando a brincadeira, que brincadeira seria, eu não sabia. Até que dentro da casa a luz começou a acender e apagar, como se estivessem sendo testada a energia ou a paciência de alguém. Não demorou muito para mim entender que as crianças estavam manipulando o padrão daquela casa, como uma espécie de brincadeira de mal gosto elas faziam isso para me deixar com medo e me fazer gritar enquanto caiam na gargalhada.
Como em um desses liga e desliga padrão eu estava tirando a geladeira da tomada pois tinha medo disso fazê-la queimar, levei um choque que me paralisou, cai no chão e senti uma grande onda de energia ser descarregada sobre mim, fiquei imóvel, não conseguia me mexer. Meus movimentos foram tirados de mim e caído no chão não havia esperanças de alguém me encontrar tão cedo. O dia amanheceu, eu estava ali, não havia morrido mas não poderia movimentar-me. As crianças ficaram com medo do meu silêncio que confessaram a seus pais o que estavam fazendo a mim. Os pais conseguiram chamar os bombeiros que conseguiram arrombar a porta e me levar ao hospital. Eu fiquei paralisado por dias. Depois voltei ao normal, conseguia conversar e ter uma vida normal, logo poderia voltar ao trabalho se quisesse.
O técnico
Reviewed by Donna Chieti
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janeiro 29, 2020
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