Há alguns anos atrás eu li o livro Como eu era antes de você da autora Jojo Moyes, a estória é muito impressionante e o enredo tem muito tom de realidade. No livro eu tive a impressão de todos os detalhes que são maiores expostos sobre a vida de Louisa Clark e Will Traynor. Além daqueles clichê de livro de romance, percebemos um ser humano encantador protagonizado por Louisa, cuidar de um tetraplégico de 35 anos e milionário que tem tudo mas lhe falta o essencial que é se apaixonar pelas coisas simples da vida e ter mais diversão diante da sua agora então monótona vida. Enquanto que para ela, Louisa com seus 26 anos e com a sua vida caminhando para um rumo que não esperava, foi se encontrando diante da sua busca em tentar fazê-lo mais feliz e com isso foi tornando-se mais feliz também.

Esse tinha tudo para ser um fim repetitivo e torna sem graça porém não deixou de ser trágico. Ontem, ao assistir o filme eu percebi que diferente de outras adaptações literárias para a cinematografia este enredo conseguiu não distanciar-se muito do livro. O que me deixou contente. Não adianta esperar que consigam colocar os detalhes e todas as cenas pois não teria tempo suficiente para que ocorresse dessa forma em formato de filme. O nos resta é sempre torcer para que as adaptações saem o mais próximas possível, o que foi este o caso.

O que mudou? O que eu percebi foi o personagem do Will Traynor menos ranzinza do que no livro. No filme ele estava uma pessoa amargurada mas em uma medida controlada, já a Louisa Clark apresenta uma felicidade maior do que no livro. Fizeram uma personagem o tempo todo de bem com a vida independente da situação, ressalvo alguns momentos de impasse com o seu amado Will. Os outros personagens secundários tiveram uma boa relevância no filme. O namorado dela Patrick teve um pouco mais de voz no filme apesar de no livro aparecer em várias cenas. No filme da mesma forma que no livro Patrick e a Louisa ficou nítido como um casal sem graça sendo que no filme ele pareceu ser muito mais frio. Uma coisa interessante é que no filme ele percebe a forma como a Louise aproxima-se do Will é claro isso na cena da janta de aniversário dela. O Will não demonstra tanto sentimento quanto esperava-se dele, e isso é explicado pela decisão que ele havia tomado o tornando compreensível.

Em geral, eu gostei mais do livro, relutei para assistir o filme porque sabia do final. A adaptação foi bem produzida e conseguiu transmitir muito do que está no livro. Com a ressalva da penúltima e última cena onde não mostra o final dele como eu esperava, porém a parte da Louisa deu a entender que poderá vim uma continuação cinematográfica por aí.

O filme conta a história da Liz Gilbert uma escritora que começa o enredo sufocada com o seu casamento que não era o que ela queria. Cansada da sua vida como está decide pedir o divórcio e se separar do seu marido.Ele não aceita de princípio porém acaba conseguindo que assine o divórcio. Um dia vai ao teatro ver a peça do livro que ela escreveu. Ao chegar no teatro depara-se com um ator mais novo contracenando. Os dois se aproximam e tem um romance. No começo ela embarca nessa aventura desse romance com esse rapaz até se sentir sufocada e precisando dar um tempo de Nova Iorque, sua então cidade.

Parte sozinha rumo ao seu plano de passar um ano viajando e procurando um sentido para a própria vida. Ela deixa o rapaz e vai primeiro para Roma, na Itália, compra um dicionário e decide que vai aprender italiano lá. Ao chegar na cidade logo faz amizade com uma suéca que namora um italiano que é professor particular de italiano, faz amizades. Nesse momento somos apresentados para as belezas da Itália. Ela come muito aquelas comidas típicas de dar água na boca. Passa alguns meses e então vai rumo a seu segundo destino: Índia.

Na Índia ela medita, conhece pessoas interessantes como uma jovem indiana que está prestes a se casar e um também americano do Texas que vira seu amigo e partilha conhecimentos com a Liz que a marca muito. Ela faz práticas hinduístas e vive aquela cultura.

Agora vai para o seu último destino de viagem: Bali, Indonésia. Em Bali ela vai em busca de um xamã chamado Ketut, uma espécie de guru espiritual que um dia quando passou por ali lhe entregou um papel e lhe disse que era para voltar e lhe ensinar o inglês que ele a ensinaria tudo o que sabia, além disso havia falado que ela teria três relacionamentos: dois curtos e um longo. Ela reencontra esse xamã mas ele não se lembra dela até ela mostrar o papel com o desenho e então se recorda. Ela passa a visitá-lo todos os dias. Ela conhece outras pessoas, aluga uma casa e fica morando ali. Em uma dessas viagens de bicicleta pela estrada ela sofre um acidente onde um homem num jeep a atropela, o nome dele é Felipe e ele é um brasileiro que também mora ali. Os dois se aproximam e acabam começando um romance. O romance está intenso e os dois estão grudados um com o outro, o Felipe e ela fazem atividades com o filho dele, um adolescente, o relacionamento deles está andando. Aos poucos a Liz vai procurando o sentido de sua vida e a pessoa que combina com ela.

O filme traz muitos ensinamentos sobre procurar se descobrir, entender primeiro quem somos para depois irmos atrás de encontrar alguém que possa combinar conosco. Essa busca por algo além do que já conhecemos e trilhar caminhos desconhecidos rejuvenesce e nos faz encontrar o que nem estávamos procurando. Eu re-assisti esse filme muitas vezes e sempre parece que descubro algo que passou despercebido. A viagem só por si só não traz aprendizados mas quando você vai em busca de aprender algo novo e viver isso, sentir e aproveitar o máximo a cultura e todos os detalhes em busca de você mesma é algo que nos beneficia.  

Todos os lugares onde a protagonista passou são muito mais do que as características típicas existentes, ela conseguiu extrair o melhor para si de cada coisa e pessoa. Fez amizades, vibrou, comeu, fez orações e praticou outras religiões e ensinamentos. A lição é: viva o melhor que puder.

A forma como ele fala comigo em dias pesarosos e esplêndidos em um tom empolgante até parece que me conhece, é verídico que me conheces. Com as múltiplas facetas da sua alegria e o tom do seu riso me fazendo acreditar que amizade é para sempre. Em dias chuvosos, em dias normais e a inesperada mensagem pode surgir na tela fria do meu aparelho celular, o sorriso cintilante aparece em meu rosto precedendo as gargalhadas de ter entendido a sua piada.

A sua magnífica ironia contempla a minha visão crítica da humanidade equiparando os nossos pensamentos e construindo um elo forte que nos faz resistir ao tempo com a graciosidade de uma simples amizade. Não há como duvidar que a amizade é maior do que o mar. Talvez eu usasse o eufemismo para amenizar ou encobrir o real tamanho de nossa amizade.

Houveram alguns precursores em outras fases da minha vida, amizades essas que eu pensara permanecer para sempre, a maioria duraram até o colegial e não entraram nem no meu primeiro ano na Universidade. Houveram épocas em que pensara nunca existir um único bom amigo na face da terra. Julgava que não descobriria o que era ter amigos de verdade, embora a minha empolgação faça-me parecer como uma dominadora dessa arte, devo advertir-vos que não cheguei a nenhuma conclusão precisa sobre como poderia vos achardes um único ser confiante para tornares seu melhor amigo.
Após muitos anos debruçada sobre uma tela, participando de alguns encontros, tentando conversar com colegas, sorrindo para estranhos em lugares públicos ou nos dias de maiores desespero capturando números de pseudo-conhecidos na internet, todo o meu esforço não renderam-me muito ao menos não o que eu espera: uma lista repleta de pessoas a conversar a qualquer momento e sobre os mais variados assuntos. Para a minha calamidade, consegui apenas alguns poucos conhecidos que somente a contar os dedos de minhas mãos ou melhor os dedos de uma das minhas mãos pude ter conquistado raríssimos amigos e sobrando apenas um melhor amigo.

A última linha dos dois anteriores parágrafos dão ênfase a palavra amigo, sem premeditar isso entoa forte na minha vida, não sei se sempre entoará mas agora está entoando.  Talvez porque eu devesse acreditar que a amizade me curou de viver sobriamente solitária sem qualquer outra opinião senão a minha. Antes que você, caro leitor me pergunte mentalmente sobre e minha família vou adiantar a sua curiosidade interna revogando-vos para que entenda que a família fica em outra esfera, patamar esse distante e diferente da amizade, portanto não cabe aqui relatar o quão melhor e mais profundo é a família do que a amizade pois sabes que és. Uso apenas o meu insight para contar-vos sobre como eu introduzi uma singela e amadurecida amizade tão subitamente.

Devo dizer que os nossos entrosamentos foram por iniciativas do meu amigo, não que isso fosse de extrema importância até por vivermos em uma modernidade que não nos permite tamanha cerimônia entre quem introduz e quem é introduzido a uma conversa mesmo que pareça muito banal. Quantas vezes estivera eu a ponto de engolir em seco e entre muitas circunstâncias que somente o meu melhor amigo pôde dizer o que precisava e não o que queria ouvi e somente o melhor amigo me diz tal proezas. São palavras que outras pessoas não lhe dirão, nem mesmo o seu namorado, aquele que a compara com a ex e com a futura mulher que tentará conquistar quando largar-te. O melhor amigo é aquele que expressará tudo o que se passa e ainda tentarás abrir seus olhos para as realidades que cegamente não enxergas. Se você, caro leitor, tens um mísero amigo para abraçar-te em dias frios ou para introduzir uma proza és muito feliz e mereces cultivá-lo para que nunca acabe a tua amizade.

"Poderíamos ter nos encontrado em alguma rodoviária, quem sabe você sentaria na poltrona do meu lado, conversaríamos por longas horas até eu descer no meu destino, trocaríamos o contato e ficaríamos amigos e depois namorados. Poderíamos ter nos conhecido na escola, você seria o adolescente nerd apaixonado por mim e eu seria a garota que te esnobaria, poderíamos ter nos conhecido na Universidade, você pediria para estudar comigo e ao invés disso nos tornaríamos namorados, poderíamos ter nos conhecido no trabalho, você seria meu parceiro e ajudaria em minhas obrigações e enquanto estávamos conversando sobre a vida descobriríamos um sobre o outro e isso iria além. Poderíamos ter nos conhecido na Biblioteca Municipal do município em que eu resido, você seria aquele estudante dedicado com um livro tijolão sentado no canto da biblioteca que demoraria horas e dias para me enxergar do outro lado lendo algum livro de literatura clássica brasileira. Poderíamos ter nos conhecido em uma fila de cinema, provavelmente você iria assistir algum filme de ação, aventura ou ficção científica e eu iria assistir algum filme biográfico.
O tempo, não sei se isso é relevante, o local e a forma com que nos conhecemos nos fazem refletir sobre como tudo seria diferente se a gente tivesse se conhecido nesse ou naquele momento, eu não sei se isso seria relevante, minha querida. Eu não sei se as coisas entre nós seria assim tão formidáveis. Passei muito tempo tentando compreender o nosso sentimento, escrevi-lhe muitas cartas no nosso tempo e fiz bastante teorias sobre a gente. O que me resta lhe dizer são as hipóteses de nós dois.
Se apaixonar sem hora e nem data marcada, conhecer alguém de forma inesperada e relatar todo esse sentimento da forma como fiz é um ato de coragem para um homem. Eu sempre fui muito corajoso, sempre fui adiante com tudo aquilo que penso, o meu pai me ensinou que homem não pode fugir e nem se arrepender daquilo que está disposto a fazer. Eu estive disposto a te amar, eu me abri para experimentar esse sentimento que sinto por você, minha querida."
Com uma rosa na mão, um bilhete com as palavras que escrevi de forma simples eu pude redigir uma mensagem para você, se eu fosse um poeta ou um escritor poderia te escrever palavras bonitas que lhe fariam alegrar o coração. Sou um homem humilde, rústico, sertanejo que aprendeu apenas o necessário para poder comunicar com as outras pessoas, esse texto que você lê foi redigido por meu amigo Honório que gentilmente conseguiu digitar em seu computador tudo aquilo que eu levaria horas e até dias para conseguir escrever de forma correta dado ao meu básico português. Eu gostaria de abraçá-la, beijar sua mão e lhe dizer todo o amor que sinto por você, talvez algum dia se você vier para Nova Canaã do Norte poderemos viver tudo aquilo que somente de longe sentimos. O espaço é grande entre a gente, eu desejo um dia diminuí-lo. Conte-me qualquer dias desses o que sentes por mim, eu gostaria de saber se tudo aquilo que você disse sobre eu é verdade. Você quer mesmo um cara xucro como eu? O que uma mulher tão bela como você viu em mim?
Aqui está tudo normal, como quando você estava, eu estou cuidando do gado e consertando muita cerca. Além de cavalgar todos os dias por esses pastos. Eu sinto a sua falta, eu te imagino no pé do fogão a lenha fazendo nossa comida e cuidando das nossas três futuras crianças, nós morando em uma casa simples. Se você quiser eu mudo todos os meus planos e vou para a cidade com você, até falo o português correto, uso gel e deixo o meu chapéu de lado. Tudo depende de você, amor.

Qualquer dias desses escreva-me de volta.

Do seu homem, Gaspar. 

(Leia em português aqui)

I have not known what a passion has been for some years, but it is platonic for someone. When adults talk about adults, I didn't believe that everything was not as romanticized as in childhood and adolescence. Looking at everything you walk today, seeing as more impressive stories and their outcomes, my heart stopped pounding breathlessly, my mouth is no longer dry and my gaze doesn't catch any movie scene clips with anyone.

By allowing romance, I see real life, look at how difficult it is to open my eyes to the reality of the world. I still have feelings, I still consider humanity as important and I still see the bright side of life. However, now see everything clearly and without pretension. Do not wait for the Prince of Disney, and you would not wait, if for someone who is Shrek.

As a life does not come with a manual, you will read as instructions and read the lives of others, just be careful not to confuse context A with B. Lucidity avoids all men, and trying to prevent you from stopping.

I will keep walking so that I have no excuse to stop, I prefer that it is not me falling in love, not deluding myself and not loving myself. I prefer it to be light as a breeze and quiet as the wind. Don't fall in love with the illusion, do a constant search for reality.

Gradually, I changed the biography novels of important people in history, when I saw the follow-up of all newspapers, debating politics weekly and reading articles that explain the continent's economic context.

It was not something I planned, it was something that happened little by little, it started to see men in a non-romantic way and to see them in a non-affective way, but in a collegial way, and the closest ones as friends. Do not create expectations and do not wait all the time, be polite, romantic and beginner with me, which has made me totally independent of passion. Even if you know you should never say it, believe it is more unlikely for an adult to fall from overwhelming passions than teenagers.

In adulthood, you don't see the handsome guy and imagine yourself as the man in your life, you see the handsome guy and think: "Oh, he's more of a handsome guy", and he goes on with his life, stays on his boat, rides his horse and you go to the front, you think about something and in the late afternoon you hardly remember that you saw a handsome guy on the street. You finally notice that you don't fall in love.

Ela era negra como a noite, todas as outras eram brancas com os olhos azuis. Os olhos dela eram pretos e a sua face tinha um brilho, os seus cabelos encaracolados e os seus traços finos. Ela vestia roupas de folhas de árvores. A delicadeza com que olhava com seus olhos grandes e brilhantes, seus lábios eram grandes e sua sensibilidade transformava as suas palavras em poesias.

Quando eu a vi transformar-se naquela linda mulher enlouqueci, de longe eu via aquele inseto que me fascinava transformar-se naquela mulher que me enlouquecia, me fazia arder de paixão. Não era mais a frágil libélula, era a mulher por quem eu nutria desejos. Eu queria ela custasse o que fosse. Imaginava-me ao lado dela, provando e vivendo isso. Ela caminhava pela floresta, eu a imaginava toda somente para mim, até que um dia desses a agarrei e quis que fosse minha, com um chute no meio das minhas pernas conseguiu fugir de mim.
Se eu te disser, tenho muitas experiências, tenho vivido anos conquistando mulheres por entre os lugares que estive, em todos os momentos fui bem sucedido se alguma vez fui rejeitado nem me lembro mais. Aquela mulher tinha um biotipo incomum no meu País, o que me fascinava além de tudo era a sua persistência em não ser minha. Ela possuía a credibilidade de ser ela. Eu queria agir, eu queria aceitar que não a tinha. Queria por todas as minhas vontades de lado e seguir sem ela, eu não conseguia, não podia fazer isso quando a minha razão se tornou persistir em tentar atraí-la.
A minha pupila dilatava toda vez que a via. Meu coração saltitava de emoção e expectativas. Dessa vez quis estabelecer um diálogo, quis conversar e tentar saber um pouco sobre a história que ela carregava anterior a sua estadia na floresta. Eu sabia que por traz dessa mulher devia ter muito mais histórias vividas e um amadurecimento que a fez crescer em personalidade e atitude. Se eu conquistasse a sua confiança poderia ser muito mais do que o Don Juan, o caçador, e muito mais do que um simples amigo. Queria ser o único em quem ela confiava, o homem que iria estar com ela em todos os momentos.
A gente tinha a expectativa  e a realidade. Ela era uma realidade. Olhava para mim como quem tinha muito a dizer. Contava-me em silêncio que me amava, eu via isso no seu jeito. Ela me completava, toda vez que eu andava por floresta a dentro e procurando encontrar algo eu tinha certeza de que somente ela me bastava, o meu desejo por borboletas foi diminuindo aos poucos, eu fui me sentindo completo por ela. Demorei muito para entender que todo o meu foco nela era por eu ter visto muito mais em mim a necessidade de ter ela.

Leia as primeiras páginas do livro Don Juan moderno

Hugo era um rapaz que conhecia todas as pessoas pelo nome, não era nenhum pouco bonito, porém, arrumava-se muito e gostava de usar as melhores roupas que existiam nas lojas, seus pais o bancavam em tudo, não poupavam esforços para dar o que ele queria, como, onde e quando queria. Todos os dias era a mesma rotina. Hugo vestia o seu terno de marca, passava o seu perfume caro e usava gel em seu cabelo, alinhava com o pente, saia de casa com a Bíblia debaixo do braço, cabeça erguida, nariz em pé. 

Era filho de pastores, foi criado pela cultura tradicional cristã, todos os dias ele conseguia se justificar santo e merecedor do melhor. Todos os dias olhava para os outros com um ar de superioridade e fazia de tudo para se destacar como melhor do que as outras pessoas.

Ao chegar na Igreja, sentava-se no primeiro banco, com a cabeça erguida e os olhos fechados, apenas confirmava que o céu já era dele, em sua concepção se não fosse ao céu, ninguém mais iria pois em sua imaginação não existia ninguém melhor do que ele para herdar o reino de Deus. Sua lista de razões era enorme: filho de pastores, pregador, dizimista e músico cristão. O candidato perfeito para herdar as maravilhas divinas.

Quase não faltava em nenhum culto, não tinha amizades com pessoas que ele considerava "do mundo". Não existiam barreiras para o seu orgulho, essa não é a palavra correta para descrevê-lo mas esse era o sentimento que ele tinha toda a vez que o seu Pai o usava como exemplo em alguma pregação. As moças arregalavam-se toda vez que o viam passar, o sorriso maroto no seu semblante não escondia a felicidade de ser o desejado por entre a mocidade de sua congregação. O seu irmão mais velho, o Anísio, era igual a ele. Sentiam-se ambos importantes, especiais e exclusivos.

Naquela manhã Hugo precisava ir ao centro comprar alguns mantimentos que sua mãe lhe pediu. Como o seu pai havia viajado com o carro, sua única saída foi pegar um ônibus público. Entrou dentro daquele ônibus com uma cara de nojo, rolou a roleta vestido de roupa social e quase ficou imprensado. Sentou-se em um assento para deficientes especiais, olhou dos pés a cabeça duas velhinhas que sentavam no banco do lado, ergueu a cara e fechou os olhos como quem está em transe. Em poucos instantes sentiu suas costas incomodarem, pegou o banco e desceu até onde pôde, deixando apertado um senhor que pesava mais de oitenta quilos no banco de trás, na poutrona do seu lado colocou sua mochila. O ônibus seguia por entre sua linha rotineira, não entrava ninguém que o pedisse para sentar ao seu lado. Não que mais pessoas não estivessem entrando no ônibus, porém, escolhiam os lugares que estivessem disponíveis e sem pertences postos em cima. Ainda mais, sentiu-se necessitado de deitar nas suas duas poltronas, retirou sua mochila do banco, colocou no guarda-volumes em cima dos bancos. Deitou-se no banco, como sua viagem era demorada pois morava no último bairro da cidade e até chegar ao centro demoravam umas duas horas. Aconchegado no banco não demorou muito para que pegasse no sono, o sono era daqueles que se tem após muitas horas de trabalho árduo, o que não era o caso do Hugo que vivia sendo paparicado por seus pais e cuja a idade de vinte anos o dava forças suficientes para roçar um pasto se fosse preciso. A cada nova parada mais pesssoas iam entrando naquele ônibus. Hugo não via nada. Quando foi-se durante muito tempo e entrou um senhor com uma perna manca arrastando, o senhor andava por dentro daquele ônibus  segurando-se em uma poltrona e outra, seu fôlego o puxava de uma tal maneira que para respirar era difícil. Haviam poltronas disponíveis para ele sentar e ele poderia se as pessoas que estavam sozinhas não tivessem deixado suas bolsas em suas poltrona em seus lados.

O senhor estava cansado de andar pelos corredores daquele ônibus e ninguém o dar um lugar para sentar. O motorista viu a situação pelo retrovisor, deu um grito lá dentro:"Pessoal, alguém arruma um lugar para o senhor sentar." As pessoas que não estavam dormindo fingiram-se como em gestos que lhe davam essa impressão. O senhor caminhou e parou em frente a poltrona de Hugo, com muito esforço pois suas vistas não o ajudavam muito, conseguiu ler que aquele era um assento especial. Então, parou, analisou aquele jovem ali deitado, viu que não era mulher lactante, não era idoso e aparentemente não lhe faltava nenhum componente físico. Cutucou o rapaz, após muita insistência ele ergueu a cabeça e o senhor lhe disse: "Desculpe moço, esse assento é preferencial, poderia me ceder uma dessas poltronas?" 

O jovem cristão simplesmente olhou o senhor dos pés até a cabeça, como em um olhar de desdenho. "Eu não vou ceder, estou cansado e preciso descansar. Procure outra poltrona."

O homem não tinha mais o que fazer, já havia andado com sua perna arrastando por aquele corredor e ninguém se importou em lhe oferecer um lugar. Ficou em pé. Disse para o jovem: "Deus lhe abençoe, jovem. Eu vou em pé."

Uma senhora que antes estava dormindo, acordou e foi quando viu o senhor indo toda a viagem em pé, retirou sua bolsa do lado e o convidou a sentar. O senhor muito comovido foi arrastando sua perna até a poltrona e ali sentou. Não sei qual era a religião daquela senhora e nem se tinha algum credo, eu só sei que ela teve a sensibilidade em se compadecer do próximo.