A dor de ser

Jamais pensei que a veria de novo, jamais pensei que ela viria me causando um choro silencioso com enorme vontade de compreender todas as incógnitas que existem. Foi assim que a vi chegar: a dor. Esse sentimento misterioso que outrora machuca por fora e é mais forte e profundo quando o transtorno é dentro do nosso interior.
Foi o sentimento que me atormentou durante anos, causando dentro de mim a sensação de perca. Me sentia melancolicamente triste, uma tristeza que pensara não mais acabar. O tempo foi feito um remédio ardente que ardia deixando-me curada. Não pude deixar de fazer a minha análise da dor. Quanto mais você entende que pode obter cura e que esse sentimento é por não entender aspectos de sua vida ou não aceitá-los melhor será para amenizar dia após dia o sofrer.
A dor é um sentimento. Você precisa entender isso. Duas ou três feridas em seu corpo não doerá mais do que um coração partido. Talvez seja por as feridas poderem cicatrizar depressa se colocar remédio sobre elas, já o coração não tem fórmula ou segredo eficaz, somente o fator tempo poderá ajudar você a superar.
Tenho milhões de razões, antes eu também tive, vesti meu pior medo e isso arrendondou a minha dor e fez-me senti-la ardendo, latejando aos poucos no meu coração, foi instalando-se pouco a pouco dentro de mim e quis fazer morada. Eu recusei. Pedi para que saísse e parasse de incomodar o meu ser. Eu quero ser sem ela, eu quero voltar a não conhecê-la e dizer para que não seja uma parasita dentro de mim, minha casa interior não precisa de mais um sentimento fazendo morada. O que eu tinha que fazer com a dor era dizê-la o quanto estava insatisfeita com a sua presença e isso deveria ser o bastante para que ela fosse.
Ela não quis ir, disse-me que preferia me ferir. Eu tive que a esmagar aos poucos até que entendesse que nós não somos parte do mesmo corpo, eu sou a dona e ela uma parasita. O corpo é meu e o sentimento é dela. Não devemos nós dividir a mesma casa. O que ela faz de mim é cruel, lágrimas saem dos meus olhos e um vazio toma conta do meu peito, meu coração se aperta e sinto-me angustiada. Todos os dias ela me derruba e me coloca no chão, enquanto estou com ela me acabo e não encontro mais razão, onde está a minha razão? Eu vejo que não sei e quando olho está com ela. O poder dela é enorme e o meu se torna pequeno. Antes que o dia acabe eu tomo a decisão de dissipá-la. Enquanto lateja o meu coração espremendo-se com ela, arranco tudo o que ela me faz sentir e sigo, eu sigo correndo a cada momento até me encontrar longe dela. Escrevo-lhe um bilhete de despedidas "Obrigada por partir parasita". Sigo sorrindo sem ela, longe dela e não vendo-a. A dor de algo acaba-se quando decidimos acabá-la. 

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