Don Juan moderno [pág 5] Capítulo 1 - Entrelaço


Enquanto as suas borboletas pairavam pelo jardim ele as vigiavam, havia as soltado para que tomassem um pouco de ar, existia um limite imposto até onde poderiam voar para que não se perdessem de suas vistas. Enquanto pensavam serem livres, rodeavam por todo o jardim, entre flores e árvores, pousando sobre alguns animais e alçando voos como se fossem livres de verdade. Competiam entre elas, queriam ser uma mais bela que a outra, gostavam dos elogios dele, queriam que lhe dissesse que a sua cor era a mais bonita e que as suas asas mais brilhantes, ele fazia todas essas afirmações e muitas outras, isso as deixavam alegres não sabendo que tudo não passava de uma ilusão.
Aos olhos do colecionador, todas são iguais, o que o faz feliz é a quantidade e não a qualidade, para ele não importava se a asa de uma era maior que a da outra, se uma delas conseguia alcançar voos maiores ou se aquela agradava-lhe mais, para ele o prazer estava em obtê-las e fazer volume dentro de sua caixinha.
Era estúpido ver as borboletas se sentindo especiais, não existia nada de novo no mundo delas, tudo igual. Eram sempre as mesmas cores, os mesmos tipos de voos e os mesmos pensamentos. Nenhuma delas era superior a outra, enquanto deixavam-se serem enganadas por aquele colecionador eu voava na tentativa de me manter longe daquele terreno para não fazer parte daquele círculo. Elas não podiam ver as minhas asas por causa que a libélula possuí asas transparentes e isso as deixavam felizes pensando que eu era limitada enquanto que eu escondia delas a minha capacidade de longos voos e de olhar aguçado. Elas queriam que eu fizesse parte do grupo, me convidavam a me deixar levar pelo colecionador, não sabendo que eu não gostaria de fazer parte daquela coleção e não era igual a todas as que ali estavam. Por mais que eu pudesse querer eu não podia, até mesmo o meu corpo não era como os das borboletas. A minha forma de voar e as minhas percepções se diferenciavam. Eu não seria feliz dentro daquela caixa e nem junto aquele grupo.
Don Juan recolheu as suas borboletas com receio de que algum animal pudesse as tragar e tirar-lhe alguma delas. O seu objetivo era manter todas, ainda que nenhuma delas podiam ser divididas com outro colecionador. Ele era de todas e todas eram só dele, a sacada masculina sempre foi bem desenvolvida, enquanto o felino pode ter várias, a fêmea deve ter somente um. Por mais moderno que seja, o enredo é sempre o mesmo.
Após recolher as borboletas começou a andar pela floresta com os seus olhos regalados na procura de encontrar a libélula voando por aí, entre uma árvore e outra olhava para cima na tentativa de enxerga-la mas nada. Não a via e por mais que entrasse floresta a dentro só haviam muitas borboletas, eram lindas e ingênuas, embora acreditassem que eram espertas, então as capturou com uma tamanha facilidade que nem mesmo acreditava que eram tão fáceis assim.

A coleção crescia, tinha borboletas de todos os tipos, sentira-se satisfeito, somente havia uma inquietação que o deixava aflito, era aquela libélula, por que não podia ser dele? Por que tentava de todas as formas e não conseguia a alcançar, quanto mais perto chegara mais alto ela voava. Aquilo o fazia rabiscar estratégias, mudar frases e rever seus pensamentos. Se existisse um jeito de a capturar iria descobrir. Não era possível que aquela pequena libélula o faria ser tão desafiado a agarrá-la sem ao menos perceber que quanto mais se aproximava dela mais longe ficava das borboletas e isso o fazia caminhar entre dois rumos, ou ela ou as borboletas, não haviam alternativas para ele e isso o deixou cada vez mais pensativo.
Em sua imaginação aquela libélula possuía uma magia que o levaria as alturas, uma inteligência incomum e muitos mistérios que não seriam revelados de qualquer forma. Não conhecia tudo sobre ela, não entendia dos seus atributos e nem da sua capacidade de voo, tudo o que sabia era que o seu desejo por ela aumentava a cada dia. Isso o fazia se sentir cego e louco por algo que nem mesmo estava em seu entendimento. O que estava acontecendo não era notório de todo, era mais forte e intenso, sem qualquer explicação se deixava levar na tentativa de encontrá-la.

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