Don Juan moderno [pág 6] Capítulo 1 - Entrelaço


foto: internet/ libélula


A emoção tomou-lhe por completo em uma certa embriaguez de desejos e não parava de imaginar aquela libélula em seus braços ardendo pela chama da paixão. Havia algo tão forte que rompia as barreiras da distância e o campo da razão.
Por um instante tocaram-se sem ao menos se verem, olharam-se no espelho da imaginação dos corações apaixonados, viviam interligados sem estarem fisicamente juntos. A medida que chegava mais perto daquela libélula ao ponto de captura-la, dentro dele um fogo acendia, quando ela alçava voo ele se desesperava. Era mais forte que os dois, estava em uma esfera muito longe daquele lugar, por enorme que fosse aquela floresta os instintos emocionais o levavam sempre um para o outro.
O caçador andava pela floresta a passos curtos e o olhar atento com a sua rede de captura nas mãos, enquanto via as borboletas voando, procurava a libélula na tentativa de obtê-la. Ao avistar de longe, entre muitas estava ela, tão diferente com aquelas asas quase imperceptíveis e com o seu medo de que alguém pudesse a pegar. Tirou do bolso uma câmera para fotografar aquela libélula para estudar as características do seu corpo. Logo depois, a viu ir embora junto com o panapaná.
Ao chegar em casa, tirou a câmera do bolso, aproximou o zoom naquela foto e notava as diferenças físicas entre ela e as outras. Além de que não obtinha informações suficientes que o pudessem ajuda-lo em suas estratégias com aquela libélula.
No levantamento que tinha feito, a libélula existe há mais de 300 milhões de anos e existem antes dos dinossauros, possuem um corpo longo, olhos grandes cuja a visão pode chegar a 360 graus. Além de poder voar continuamente por 60 km/hora e decola sem qualquer ajuda, suas seis patas ajudam a capturar suas presas para a sua alimentação. Era um símbolo de transformação e renascimento, vivia perto da água. No reino das libélulas o macho luta para conquista-la entre outros, o vencedor obtêm a fêmea e cuida dela.
Ao checar todas aquelas informações da libélula o caçador separou o seu bloco de notas e começou a anotar os horários em que ela vinha, eram sempre ao entardecer ou amanhecer do dia. Como a sua alimentação era mosquitos e moscas, ela devia vim no horário em que esses insetos estavam por ali. Largou seu bloco, pegou a foto novamente e ficou vendo como aquela libélula era linda, como podia ter tantas características especiais e continuar livre sem que nenhum outro caçador tivesse a capturado antes, talvez pudesse ser a mais esperta de todas ou a mais sortuda. Dentro do seu armário havia diversos prêmios por ter sido o melhor caçador do ano, o Don Juan imbatível, o único que tinha passado por muitas fases e conquistado todas as borboletas que queria. Isso era o motivo que o deixava extremamente confiante que com aquela libélula também obteria sucesso. Ele era o Don, não qualquer um, o que tinha a capacidade de concretizar aquela caça sem qualquer prejuízo.
Estava certo de que a estratégia para aquela libélula seria diferente, deveria depositar muito mais atenção, confiança, emoção. O que não acontecia era não se atrair por ela, com toda a sua experiência, truques, artimanhas, não conseguia manter os seus sentimentos longe daquele jogo. Quando pensava nela, era o coração que falava mais alto, era a sua fragilidade, dentro de si carregava por ela algo que se tentasse a destruir acabaria se machucando também. Queria sobretudo descobrir o encanto que estava em volta dela e o motivo de não conseguir a ver como as outras.
Lembrava dela alçando voos a pequenas distâncias e chegava ao ponto de quase captura-la. Ela conhecera a floresta e voava em lugares onde estava segura, quando aparecia na região central era devido estar com fome e saber que ali estavam muitos insetos que podiam servir de alimentação.
O Don Juan, o caçador, tinha uma opção infinita de alimentos disponível, poderia saciar sua fome a qualquer momento, sem muito esforço e qualquer atrito. Quando lançava a sua rede arrastava muitas borboletas para a sua coleção e ao passo que se direcionasse ao rio pegava muitos peixes.
As cores de suas asas, seu corpo, cada pequeno detalhe o intrigava, como podia ser tão pequena e frágil? Como ele tão forte e perspicaz se desmontaria diante daquela franzina libélula. Por que não a deixava ir? Por que tinha tanto medo de que outro caçador pudesse a alcançar primeiro? Ele não fazia ideia da respostas daquelas perguntas, dentro do seu interior existia apenas o forte desejo de vencer esse jogo primeiro antes de nenhum outro.
Saiu de sua casa e foi para fora, ouvia o som dos pássaros e outros animais que existiam naquela floresta. Estava com fome e sua caça do dia já havia sido feita, aqueles passarinhos estavam prontos para serem fritados no óleo quente. O caçador foi para os seus dotes culinários, preparando a própria comida enquanto lembrava daquela que estava em sua mente nos últimos dias. Após comer foi descansar debaixo de uma árvore um pouco próxima de um rio. Deitou-se ali, foi dormir.
Cerca de duas horas depois em sono profundo ouviu barulhos constantes de pássaros voando próximo dali, espantou-se, pegou a sua rede e foi ver o que era. Era a libélula juntamente com algumas borboletas voando mais abaixo dos pássaros acima dela. Levantou depressa, lançou a sua rede e capturou a libélula juntamente com as borboletas. Estava muito contente porque havia tido o momento certo para consegui-la.

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