Don Juan moderno [pág 4] Capítulo 1 - Entrelaço

A libélula percebia que as atitudes do Don Juan mudavam conforme os passos dela, quando se dizia romântica, ele era romântico, quando estava estressada ele se afastava, após um tempo voltava com a maior cautela e calma.
A sabedoria da libélula consistia em deixá-lo á vontade para contar-lhe os seus segredos, possuíra a magia de não se deixar enganar, trazia o mistério dos sentimentos que existiam dentro dele, uma visão do passado e do futuro. Ele olhava-a e conseguia ver suas asas transparentes, gostaria de poder tocá-la, obtê-la para junto de si. Mesmo tudo sendo um jogo, os dois começavam a se entrelaçar um ao outro sem perceberem, aos poucos iam deixando transparecer o que sentiam um pelo outro, o que estava acontecendo dentro deles não era revelado de todo, entretanto, era sentido. Não queriam de fato, todavia não conseguiam se distanciar, o Don Juan a queria, prometia que não a poderia em sua coleção, dizia querer cuidá-la, por ter os mesmos sentimentos, ela queria se afastar por medo. Conhecia esse caminho por outras vidas que por ali passaram, não queria deixá-lo a tocar, não queria vê-lo perto e não queria sentir o seu perfume. Ela sabia que dentro e fora dele possuía todos os atributos necessários para agarrar uma borboleta assim como poderia ser capaz de atrair uma libélula como ela.
Ele conseguia enxergar os sentimentos dela, podia sentir o cheiro dela e a imaginar em suas mãos, não podia se enganar pois sabia de todo aquele caminho, tinha experiência e sabia que aquela era diferente e que seria a peça ideal para a sua coleção, uma peça rara que precisava ser colocada em algum pedestal ou estante de vidro. Ao mesmo tempo queria ser leal e queria depositar confianças e doar mais do que poderia a ela. Observava aquela libélula voando, prometendo partir e não mais voltar, no fundo sabia que a atração que os entrelaçavam não permitia nenhum deles voar para longe um do outro.
Não podiam ser um do outro, não podiam se tocar, entre eles existia uma parede de vidro que os impossibilitavam de se aproximar, ao mesmo tempo em que aquilo estava ali, não conseguia os impedir de terem pensamentos, sentimentos ou atração. Era mais forte do que eles, era algo que não podiam controlar, sempre quando se mantinham controlados e afastados, um dos dois escapavam algum sentimento ou olhar.
Ao olharem um ao outro ouve confissão, enquanto disse-lhe que não conseguia e não queria se fastar e estava disposto a viver aquele sentimento, sentia que aquilo não era errado e que os sentimentos fazem parte da vida. Disse-lhe o que estava se passando dentro do seu interior, sentia que se ela soubesse seria mais livre, sabia que não seriam condenados por sentirem algo que não podiam controlar. Ao contrário, ela se sentia presa, culpada e atraída sem conseguir se soltar, sabia que aquilo era um beco que não havia saída, por mais que tentasse encontrar uma forma de sair, não existia essa possibilidade a essa altura. A questão estava no campo dos sentimentos e isso era perigoso.
Estavam se condenando a viver esse sentimento dia após dia, mensagem após mensagem e sentimento a sentimento. O que fazer pobre libélula? Não havia o que ser feito, não havia os limites que existiam no interior, não havia nada que poderiam fazer para parar isso, e quando isso acontece deve-se manter a cautela para não perder o equilíbrio. Era isso que ela estava fazendo, mantendo-se afastada a medida que podia na esperança de esquecê-lo, e quanto mais ela tentava mais próximos eles se tornavam. 
Pelo visto esse Don Juan consegue passar de conquistador a romântico, de mulherengo a fiel, de cafajeste a cavalheiro. Em sua percepção isso é ser apaixonante, pois esse é o seu código com as mulheres, o seu charme e o seu jeito peculiar. Além de usar do seu poder de argumento como uma ferramenta para envolver as suas vítimas, ainda consegue demonstrar o seu grau de interesse. Tudo como uma forma de tornar o seu jogo emocionante e cheio de brilho.

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