Decifra-me

Todas as palavras foram soltas. Não existem nenhuma delas presas. Aquilo que teríamos a dizer ficou para atrás. Agora existem memórias. Talvez as memórias te prendam dentro do meu mundo, te fazendo provar o veneno da sua sedução. Talvez o seu inconsciente te encharque com as lembranças minhas e dentro do seu olhar ainda existe a esperança de me encontrar. No mais profundo de você ainda tem o vazio de não me pertencer. Todas são iguais mas nenhuma sou eu. Por mais parecidas nenhuma possui a minha curva, o meu delinear, a minha sabedoria, as ondas dos meus cabelos, o redondo dos meus olhos, o desenhar da minha boca, os passos do meu caminhar e o mel das minhas palavras. 
Contente-se, saboreia, iluda-se mas não penses que alguma é eu, não penses que encontrará a minha bipolaridade andando por ai, não penses que ficando com uma outra pessoa estará me satisfazendo. Não pense que suas experiências te farão melhores na arte de me seduzir. Eu não me decifro, como poderia você me decifrar ? 
Seduzir-me vai além do convencional, do que se espera e do que se pretende. Se não puder tocar meu mundo com sabedoria e singeleza fique dentro de si. Não espere me encontrar ao acaso ou ao relento, eu me guardo nos mais improváveis cenários, dentro das mais férteis imaginações.
Eu estou indecifrável, eu estou concorrendo a um lugar no espaço sideral, eu estou construindo a minha moradia no meu terreno lunar. Eu estou caminhando, estou indo em busca do incerto, esperando pelo talvez e se aventurando no nunca, estou entre a razão e a loucura, o amor e o ódio, o sorriso e a solidão, a espera e a demora, o agora e o quem sabe, sempre sabemos que nada vai ao nosso encontro sem ser de fato nosso. Se não entendeu, por favor, decifra-me.

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