Don Juan moderno [pág 3]

Outra vez eu o observei distraído em sua coleção de borboletas, eu o vi se distrair enquanto eu o olhava reconfortante na esperança de me desprender de vez dele. Era o pretexto perfeito para deixá-lo, era o motivo ideal para colocar em minha mente a ideia de que eu não precisava esperá-lo voltar. E quem disse que eu o estava esperando? 
Eu via todo o cuidado que ele tinha com essas borboletas, administrava o tempo para cuidar de cada uma delas, todas eram incríveis, especiais e únicas para ele, porém escondia uma. Jogava o jogo conforme os seus temperamentos e filosofias. Ele sabia que cada uma por mais parecida com as outras que fosse possuía um limite e uma permissão, ele queria somente a permissão. Seus planos era obtê-las, agarrá-las para que todas ficassem envolvidas e só assim deixá-las pouco a pouco até desaparecer.
O que ele não esperava era que em meio a tantas borboletas encontraria uma libélula, e isso o fez se complicar e ter que dedicar mais tempo para atraí-la, já que esta libélula possuía uma certa sagacidade que não se via nas borboletas, ela desaparece e volta quando quer. Por mais que ele tente controlar não é possível.
O Don Juan sabe que agora o circo está fechando, ela possui uma genialidade que o deixa impressionado e ao mesmo tempo estratégico. Enquanto enreda e estrutura todo o seu jogo ele precisa dedicar-se as outras também, o que o faz ter inveja do homem elástico.
A situação fica cada vez mais complicada, o jogo está em andamento e por isso necessita-se de atenção entre as partes, e a estratégia usada por ele pode não funcionar com ela. Entretanto, o Don Juan cerca-se de pistas e vestígios deixados por ela para traçar um caminho que possa deixá-la apaixonada. Ele sabe que uma presa apaixonada torna-se vulnerável e levada feito marionete em suas mãos.
O Don Juan olhou para aquela libélula solta, de longe a via pairando pelo ar enquanto tomava conta da sua coleção. Ele se sentia satisfeito com o seu jogo de sedução e com a atenção delas. Enquanto alternava entre as borboletas e as faziam se convencer de que o pertenciam, utilizava a sua visão para enxergar novos campos onde pudesse encontrar mais borboletas e enxergava a libélula. Na vida do homem quanto mais borboletas ele tem mais rei se parecerá diante de outros homens. Nesse campo de prova de poder e masculinidade não se tem tempo para broxar ou deixar de segurá-las, provando para si mesmo o quão sedutor se pode ser.
Ele sabia que fazer com que elas pensem que o detêm as deixa reconfortantes, fazendo-as confiantes, tornando o seu jogo fácil e a sua estratégia fatal. A construção do homem ideal produzido pela sociedade patriarcal e implementada na educação desde os tempos antigos fizeram com que as mulheres idealizassem o parceiro que as fariam felizes e desejadas. Ele sabia disso, compreendia que se fosse o Don Juan apaixonado, aquele que não vê defeitos na sua amada, a entende e fornece as respostas para todos os seus desejos, teria uma grande coleção de borboletas que o supririam quando e onde quisesse. Ele sentia a necessidade de prová-las, de concretizar os seus jogos mesmo que isso fosse errado pela lei da vida, o que ele fazia era para pelos seus desejos físicos e não importava nada e nem ninguém, apenas que aquele momento precisava ser vivido. Na lei dos homens o prazer não tem qualquer ligação com os sentimentos, e ele queria o prazer, a emoção mesmo que para isso precisasse disfarçar algo que pudesse sentir.
Mas agora ele queria aquela libélula porque de certa forma o estava desafiando, provando o seu jogo e desafiando as suas estratégias. Ele queria vencê-la por insistência ou pelo discurso do caçador que poderá se redimir caso goste muito da caça. Porém sabemos que a caça nunca pode confiar inteiramente no caçador.

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4 comentários:

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  2. Dom Juan, é alguém que gosta de jogos, como todo bom player, ele cria os seus próprios jogos, com regras próprias, regras essas que estão sempre em movimento, com personagens próprios, ele cria e desfaz cenários, ele sugere cenários aos seus desafiantes, ele é especialista em criar o “acaso”, talvez, apenas talvez, isso explique o fato de seu desafiante não ter a certeza sobre a percepção do que é real e o que não é. Como é um caçador experiente, é comum ele utilizar de sua vasta técnica de caçada em seus jogos, se comportando adequadamente durante uma caçada, tendo conhecimento sobre o comportamento de sua presa afim de não fazer ruídos para não a afastar. Em cada caçada, é comum o caçador ficar marcado por sua presa, e com o dom, não seria diferente, certamente a busca por essa libélula o trará marcas, que será visível no decorrer do tempo, mas é possível notar que algo no comportamento dele sugere que possivelmente, tenha um elemento novo em sua visão de caçador, talvez ele possa estar vendo sua presa de outra perspectiva, talvez ele tenha ficado hesitante ao enxergar as múltiplas formas de beleza daquela pequena e pura libélula, indubitavelmente a medida que ele for mostrando sua personalidade ficará mais claro sobre esses mistérios que ele faz questão de esconder. É inegável que, Dom Juan, moderno, possui o conhecimento da sedução, isso faz com que ele seja arrebatador, desafiador e romântico. Ele é alguém especial. Tudo isso deixa muito claro que ele detém a habilidade da sedução no discurso, ele induz os seus desafiantes a jogar seu jogo, fazendo que cada jogador dê a sua anuência de forma tácita, ou seja, possivelmente a libélula já esteja sentada a mesa com suas cartas nas mãos, embora haja muito a acontecer, a única certeza e realidade tangível que se possa ter é - que a casa sempre ganha.


    Nobre Senhor.

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  3. Caro Nobre Senhor,
    no fundo o Don Juan não passa de alguém que tenta de todas as formas suprir o seu vazio através de seus jogos, pode até ser apaixonante mas suas atitudes em fazer seus desdobramentos para manter toda a sua coleção fará com que ele venha perder tempo e não viver algo puro e especial.

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  4. Prezada Donna Chieti,
    Primeiramente quero dizer que gosto muito do seu blog, me identifico muito com as coisas que você escreve.
    É com muita alegria que recebo seu comentário, sinto-me honrado e feliz em ter chamado sua atenção, saiba que sou seu fã.
    Com a devida data máxima vênia, ouso a não me filiar ao pensamento da senhorita, por algumas razões:

    1° As coisas nem sempre são o que parecem ser, acredito que está seja a regra de ouro....
    É possível que haja um vazio, dentro do Dom Juan, ora, não é permitido que seja excluído qualquer possibilidade, afinal de contas "do nada, nada surge" - isso sugere que para o Dom, ter esse comportamento de sedutor, deve haver alguma motivação, de igual modo, havendo realmente um vazio dentro de Dom, deve haver algum motivo, e esse motivo pode estar influenciando este "jogo" em especial - isso pode sugerir que a linda libélula, possui algo diferente, algo que deixa o aguerrido Dom em descompasso com o seu padrão, algo que deixa aguçado a sua bússola moral, isso tudo é muito perceptível, é possível ver a hesitação dele em diversos momentos, e em algumas vezes é notório a intenção de deixar aquela bela libélula voar e encontrar seu caminho, mas ela acaba voltando, não porque ele seja bom nisso ou naquilo, mas porque ela sentiu que ele é diferente também, pois ela gosta das muitas coisas que sente quando está próximo dele... portanto, não é um pecado capital sentir-se dessa maneira.
    Considerando que ele seja muito bom em criar situações, ainda não está totalmente claro que tipo de jogo foi proposto pelo Dom Juan, qual seria a real pretensão deste arrebatador de corações. A única coisa indiscutível é justamente a o fato dele ser um conquistador e especialista em criar o “acaso”, ele é apaixonante. Não acho que seja prudente excluir a possibilidade de que Dom Juan possa ser alguém digno de viver um romance.
    Enfim, isso tudo ainda é um grande mistério e apenas suposições .


    2- O fato de ser perda ou não de tempo é algo muito relativo, porque é impossível saber ao certo qual é a intenção de Dom, talvez, somente talvez ele já tenha vencido esse jogo... Veja, é difícil dizer pois ainda não está claro a real intenção com aquela incrível libélula. Neste sentido, pode-se afirmar também que impossível classificar o que seja algo puro e especial, de modo geral. Tudo isso é uma questão de perspectiva... Observe, o que pode ser especial para libélula, pode não ser para O dom, e vice-versa. Não obstante, neste caso é nítido que há uma conexão muito específica entre os dois, sim, isso é mútuo. Quer um exemplo? Essa libélula é incrível, ela é inteligente, extremamente sagaz ela é realmente demais! Considerando toda sua sapiência, ela somente estaria nesta situação de "caça e caçador" com o Dom, caso houvesse se estabelecido uma conexão entre eles, mas não uma conexão qualquer, essa conexão precisaria ser especial, ela é especial, afinal de contas uma mulher incrível não aceita nada menos que algo especial!
    arrisco a dizer, o Dom é alguém que jamais será esquecido!
    Como dito anteriormente, "do nada, nada surge".

    Embora aquela pequena libélula seja extremamente sagaz, algo tem passado despercebido aos olhos dela, o fato de que o Dom é extremamente profundo, semelhante a um iceberg, pois o que se sabe até agora é menos de 10 % de todo o seu interior. Há muito, muito mais coisas a serem reveladas sobre o Dom Juan moderno, coisas que seguramente irá surpreender aquela arguta e adorável libélula.


    Nobre Senhor.

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