Donna Chieti

Pedaços de Benji

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Ao pegar o meu celular vi pela barra de notificação que tinha dez mensagens não respondidas. Era ele que continuava insistindo com as mesmas mensagens de sempre, não sabia como dá-lhe uma boa resposta e de tanto pensar me esqueci de responder. Não satisfeito começou a fazer ligações de vídeo na tentativa de chamar a minha atenção, eu não entendia por que aquele cara que nem me conhecera pessoalmente era tão pegajoso e desesperado.

Os dias passaram e eu continuava recebendo inúmeras mensagens, chamadas, que eu não tinha mais pretensão de olhar e muito menos de responder, dentro de mim havia uma incomodação com aquelas notificações que nunca paravam de chegar. Levantei-me do sofá, fui para o quarto, voltei a cozinha e finalmente peguei no celular, lá estava ele, fazendo de tudo para chamar a minha atenção, eu olhei e não o respondi.

Quando eu tentei ter uma conversa normal com essa pessoa não consegui, por mais que eu fizesse-lhe perguntas, tentava saber de seu dia a dia, tudo o que ele sabia dizer era que me achava linda, que queria me beijar, abraçar e até casar. Como alguém normal faz tantas declarações para alguém que acabara de conhecer? Se você é adolescente é comum apaixonar-se da noite para o dia, depois de certa idade não é dessa forma, e quando o faz você consegue ter um equilíbrio e saber se aquela pessoa que você está apaixonada corresponde ou se está gostando sozinha. Consegue entender se está sendo valorizada ou apenas usada. Por mais que o cara diga isso ou aquilo você percebe o que é dito para te agradar do que é dito de coração.
Insistentemente um homem que não quer te conhecer só quer te comer ou te prender tem uma pressa muito grande de assumir um relacionamento contigo, tem uma necessidade de deixar claro que você o pertence e que tem que atender as suas mil ligações e mensagens, além de viver a própria vida sobre as sombras dele.
Me cercando de todos os lados, mantinha fazendo-me inúmeras promessas enquanto chamava-me de amore mio, eu sem entender ao certo quem ele era e o que queria com todo aquele xaveco meloso que me deixava cansada só de ler as mesmas palavras de sempre, que vinham acompanhadas do mesmo tipo e me faziam querer distância até mesmo do meu celular.

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A outra versão de nós

By Donna Chieti

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Nunca pensei que a vida fosse ser especial, não da forma que eu imaginava que fosse. Quando eu o conheci vi que era muita conexão para ser verdade, lembro-me que me disse para não se apaixonar, eu me resguardei e confiante de que você tinha o controle da situação e que jamais iria sentir nada por mim, para a minha surpresa foi o primeiro a se declarar.

Nada daquilo para mim fazia sentido, toda aquela situação que nos encontrávamos, eu não queria nada momentâneo, nada que ficasse para atrás enquanto eu deveria seguir em frente. Eu comecei a imaginar como seria a minha vida se eu aceitasse aquilo, sinceramente, você sempre soube que sou mulher o bastante e deveria receber muito mais. Está sendo assim durante as minhas duas décadas de existência, dentro de mim tem algo mais forte que eu que me diz, grita com toda a força de que eu posso mais, eu mereço mais e vou alguns passos a mais.

Eu olho para mim e eu vejo uma pessoa de múltiplas habilidades e pensamentos, alguém incompreendida pela maioria, por mais que no passado eu tentei ser limitada por outro alguém, no presente eu tenho forças para persistir e ir além. Quantas são como eu? Não conheço nenhuma que seja exatamente igual a mim. Não é modéstia, é a realidade. Cada pessoa é única, e eu sou única nas minhas particularidades.

Estou tentando de todas as formas te esquecer, eu sei que isso vai me fazer sofrer mas eu não posso viver a sombra de outro alguém, eu não posso permitir-me ser o seu segundo plano, ficar na sua estante ou ser um número da sua lista. Quanto mais próximos tornávamos eu me lembrava das mulheres que passaram a vida toda a sombra de outro alguém, esperando as migalhas, pedaços de horas, momentos curtos, esperavam passar os feriados, finais de semana, enquanto a vida passava e a juventude, o vigor e os planos de viver uma vida de verdade foram ficando na gaveta e para atrás. Eu espero da minha vida algo mais.

Dentre todas as coisas que você poderia me dizer, tudo o que poderia acontecer, só iria me fazer sofrer, eu não seria feliz nessa situação, não seria a vida que eu gostaria de viver, iria me arrepender. A outra versão de nós, é eu, você e a gente separado, cada um para o seu próprio lado. Eu te disse que eu era diferente, você não acreditou, está pagando para ver. Quando você estiver com alguma outra, você pode procurar mas não vai me encontrar. Eu não vou estar nem mesmo dentro do seu olhar.

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Eu não deveria

By Donna Chieti

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A liberdade que eu penso que existe entre a gente me deixa aflita, me faz dizer o que eu não devia. Eu não gosto de sentir-me presa a alguém que eu nem conheço e nem deveria confiar. Você é o tipo de cara que eu deveria deixar partir, abrir as portas, janelas, chaminé, tudo só para te ver partir, para que fosse sair da minha vida e para te ver longe. Não aceito fazer parte da sua lista, muito menos trocar algumas carícias. A gente deveria se afastar, abrir mão um do outro, resolver a nossa situação de uma vez por todas. Você está esperando acontecer alguma coisa para depois...você já sabe.
Eu vou seguir por linhas retas, fazer de tudo para te deixar de lado, te esquecer no meu armário, não ter os seus abraços e não andar contigo por causa do pedágio, sairia tão caro. Aliás, viver esse romance custa muito para mim, não quero ser cobrada por alguém que pode complicar a minha vida. Eu gostaria de poder ler os seus pensamentos só para descobrir o que você pensa que eu sou, te explicar não está adiantando. Estou tendo que mudar todos os meus planos, na expectativa de ser feliz sem ti, pois eu nem te tenho só para mim.
Irei resistir a sua tentativa de me levar para a cama, eu vou resistir as suas palavras doces e aos pensamentos que você coloca em mim. Eu vou deixar você na sua vida, com um outro alguém que não seja eu, para entender que você já fez suas escolhas bem antes de me conhecer e agora que eu conheci você tenho que continuar fazendo as minhas. Eu não tenho culpa das suas escolhas, não estava lá, não conhecia o seu passado e nem pertencia a ele. Mas agora no presente, não vou viver as sombras das consequências das escolhas que você já fez antes de mim.
Todas as vezes que eu penso em você lembro-me das consequências da vida das mulheres que fizeram escolhas semelhantes, com homens parecidos. Eu sei, você difere em muitos comportamentos mas como eu posso saber que comigo seria diferente? Você tenta me seduzir, me envolver justamente como eles fizeram com elas. Já disse desarmada, e digo novamente, se for para provar de mim sem pretensão, por favor saia.
Eu não quero saber o sabor da sua boca, não quero sentir o seu perfume e nem a sua mão no meu corpo. Não quero nada que me lembre de você. A gente está separado, você na sua vida e eu na minha. Você aí e eu aqui. Não precisamos continuar nada que nem começou, temos que somente seguirmos nossas vidas como se nunca tivéssemos nos conhecido indiretamente.
Você agradará a sociedade e eu continuarei no meu mundo lunar, me entregando aos efeitos colaterais do excesso de arte, sobre a luz do sol de alguma cidade e esquecendo-me que você era o meu vício daqui uns dias uma lembrança. Não existe nada de interessante em ver a vida passar e você seguir, mas sentiria-me aliviada por ter só te visto passar e não ter te visto ficar aqui.

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Don Juan moderno [pág 6] Capítulo 1 - Entrelaço

By Donna Chieti

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foto: internet/ libélula

A emoção tomou-lhe por completo em uma certa embriaguez de desejos e não parava de imaginar aquela libélula em seus braços ardendo pela chama da paixão. Havia algo tão forte que rompia as barreiras da distância e o campo da razão.

Por um instante tocaram-se sem ao menos se verem, olharam-se no espelho da imaginação dos corações apaixonados, viviam interligados sem estarem fisicamente juntos. A medida que chegava mais perto daquela libélula ao ponto de captura-la, dentro dele um fogo acendia, quando ela alçava voo ele se desesperava. Era mais forte que os dois, estava em uma esfera muito longe daquele lugar, por enorme que fosse aquela floresta os instintos emocionais o levavam sempre um para o outro.

O caçador andava pela floresta a passos curtos e o olhar atento com a sua rede de captura nas mãos, enquanto via as borboletas voando, procurava a libélula na tentativa de obtê-la. Ao avistar de longe, entre muitas estava ela, tão diferente com aquelas asas quase imperceptíveis e com o seu medo de que alguém pudesse a pegar. Tirou do bolso uma câmera para fotografar aquela libélula para estudar as características do seu corpo. Logo depois, a viu ir embora junto com o panapaná.

Ao chegar em casa, tirou a câmera do bolso, aproximou o zoom naquela foto e notava as diferenças físicas entre ela e as outras. Além de que não obtinha informações suficientes que o pudessem ajuda-lo em suas estratégias com aquela libélula.

No levantamento que tinha feito, a libélula existe há mais de 300 milhões de anos e existem antes dos dinossauros, possuem um corpo longo, olhos grandes cuja a visão pode chegar a 360 graus. Além de poder voar continuamente por 60 km/hora e decola sem qualquer ajuda, suas seis patas ajudam a capturar suas presas para a sua alimentação. Era um símbolo de transformação e renascimento, vivia perto da água. No reino das libélulas o macho luta para conquista-la entre outros, o vencedor obtêm a fêmea e cuida dela.

Ao checar todas aquelas informações da libélula o caçador separou o seu bloco de notas e começou a anotar os horários em que ela vinha, eram sempre ao entardecer ou amanhecer do dia. Como a sua alimentação era mosquitos e moscas, ela devia vim no horário em que esses insetos estavam por ali. Largou seu bloco, pegou a foto novamente e ficou vendo como aquela libélula era linda, como podia ter tantas características especiais e continuar livre sem que nenhum outro caçador tivesse a capturado antes, talvez pudesse ser a mais esperta de todas ou a mais sortuda. Dentro do seu armário havia diversos prêmios por ter sido o melhor caçador do ano, o Don Juan imbatível, o único que tinha passado por muitas fases e conquistado todas as borboletas que queria. Isso era o motivo que o deixava extremamente confiante que com aquela libélula também obteria sucesso. Ele era o Don, não qualquer um, o que tinha a capacidade de concretizar aquela caça sem qualquer prejuízo.

Estava certo de que a estratégia para aquela libélula seria diferente, deveria depositar muito mais atenção, confiança, emoção. O que não acontecia era não se atrair por ela, com toda a sua experiência, truques, artimanhas, não conseguia manter os seus sentimentos longe daquele jogo. Quando pensava nela, era o coração que falava mais alto, era a sua fragilidade, dentro de si carregava por ela algo que se tentasse a destruir acabaria se machucando também. Queria sobretudo descobrir o encanto que estava em volta dela e o motivo de não conseguir a ver como as outras.

Lembrava dela alçando voos a pequenas distâncias e chegava ao ponto de quase captura-la. Ela conhecera a floresta e voava em lugares onde estava segura, quando aparecia na região central era devido estar com fome e saber que ali estavam muitos insetos que podiam servir de alimentação.

O Don Juan, o caçador, tinha uma opção infinita de alimentos disponível, poderia saciar sua fome a qualquer momento, sem muito esforço e qualquer atrito. Quando lançava a sua rede arrastava muitas borboletas para a sua coleção e ao passo que se direcionasse ao rio pegava muitos peixes.

As cores de suas asas, seu corpo, cada pequeno detalhe o intrigava, como podia ser tão pequena e frágil? Como ele tão forte e perspicaz se desmontaria diante daquela franzina libélula. Por que não a deixava ir? Por que tinha tanto medo de que outro caçador pudesse a alcançar primeiro? Ele não fazia ideia da respostas daquelas perguntas, dentro do seu interior existia apenas o forte desejo de vencer esse jogo primeiro antes de nenhum outro.

Saiu de sua casa e foi para fora, ouvia o som dos pássaros e outros animais que existiam naquela floresta. Estava com fome e sua caça do dia já havia sido feita, aqueles passarinhos estavam prontos para serem fritados no óleo quente. O caçador foi para os seus dotes culinários, preparando a própria comida enquanto lembrava daquela que estava em sua mente nos últimos dias. Após comer foi descansar debaixo de uma árvore um pouco próxima de um rio. Deitou-se ali, foi dormir.

Cerca de duas horas depois em sono profundo ouviu barulhos constantes de pássaros voando próximo dali, espantou-se, pegou a sua rede e foi ver o que era. Era a libélula juntamente com algumas borboletas voando mais abaixo dos pássaros acima dela. Levantou depressa, lançou a sua rede e capturou a libélula juntamente com as borboletas. Estava muito contente porque havia tido o momento certo para consegui-la.

Tem continuação - vá para a Página 7

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