Museu Nacional


Ao topo daquele prédio eu senti o vento sobre todo o meu corpo e o meu ser. Eu observava no silêncio do dia aquele que carregava toda a nossa história durante décadas, entretanto precisava de reconstrução. Não dava para acreditar que conseguiram acabar com as provas e os vestígios de nosso passado. Eu estava lá, e não pude apreciar as suas obras e muito menos tocar em algum pedaço da nossa história, e as próximas gerações terão menos do que tivemos, verão menos do que vimos.
Eu estava na cidade maravilhosa e me sentia radiante diante do topo daquele lugar observando o maior dentre todos, o guardião de nossos segredos: o museu.
Não era tudo perfeito, eu sabia que haviam morros, a violência que a mídia sempre fez questão de nos lembrar, porém nenhum ponto negativo que pudessem me dizer explicaria o que eu senti naquele lugar. Lembro-me das poucas vezes em que me senti assim, ou em que eu pensava que havia tido esse mesmo sentimento. Ao contrário de tudo o que eu percebera em outros lugares o que ocorreu comigo ali foi o encontro com aquilo que eu queria muito encontrar, a nossa cultura. 
Eu vi naquela cidade cosmopolita, o cartão postal do Brasil, o berço da nossa cultura, a pluralidade do povo e da nossa história. Me sentia abraçada e cuidada pela maioria dos cariocas, o sorriso solto e o sotaque junto com a beleza natural e a simplicidade daquela cidade me envolveram de uma forma diferente. Me senti livre e leve como a brisa sobre os meus cabelos enquanto observava aquele museu. 
Ao mesmo tempo em que queria me prender, queria me soltar, sei que o passado não vai mudar. É por isso que eu aprendi a apreciar o museu como um filme de cinema contando uma história com os pedaços do passado. Era tudo o que eu queria, era tudo o que eu tinha naquele momento, as minhas raízes, as minhas memórias, mesmo sabendo que há centenas de anos tudo isso era diferente e esses personagens eram outros. Eu também não existia.
Quem se importava com o passado? Ha quem interessava tudo aquilo? Se apagarmos a nossa história ficaremos sem entender o nosso presente, sem rumo para o nosso futuro. Eram 20 milhões de itens guardados e protegidos, agora sabemos que não existe segurança nem mesmo sobre o nosso passado, o que dirá sobre o nosso futuro.
Cadê o museu que eu deixei aqui? Se incendiou. O fogo queimou, ficaram registros, restaurações e objetos que se foram e não vão mais voltar. Com todos os porém, vírgulas e interjeições eu mantenho-me sobre a brisa que me pegou naquele lugar. A atmosfera de muitos segredos que eu não vivi, de um tempo em que eu não existira.
Não sei se um dia eu ficarei na história ou somente na memória. Eu só sei que sentir o momento me faz viver mil vidas e levar comigo todas elas. Todo o dia eu observava o museu enquanto olhava as pessoas se movimentarem em suas rotinas. Eu era uma peça quase invisível daquele quebra-cabeça, eu estava ali só para viver e sentir, eu via e desaparecia, não verbalizava e não compartilhava aquele momento, eu guardava tudo para mim, eu o tinha como uma peça sobre as minhas mãos ao mesmo tempo não poderia tocar ou apreciar porque estava ali para se restaurar.

Ao nosso,

Museu Nacional do Rio de Janeiro.

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