Fazem alguns anos que eu não sei o que é ter uma paixão, nem que seja platônica por alguém. Quando os adultos falavam sobre ser adulto eu não acreditava que não era tudo tão romantizado como na infância e na adolescência. Olhando para como tudo se caminha hoje, vendo as mais impressionantes histórias e seus desfechos, o meu coração parou de palpitar ofegante, minha boca não anda mais seca e o meu olhar não pega nenhum clímax de cena de cinema com ninguém. 

Ao invés de romance eu vejo a vida real, olho o quanto é difícil abrir os olhos diante da realidade do mundo. Ainda tenho sentimentos, ainda considero a humanidade como importante e ainda vejo o lado bom da vida. Porém, agora vejo tudo com clareza e sem pretensão. Não espero o Príncipe da Disney, e você também não deveria, se for para esperar alguém que seja o Shrek. 

Como a vida não vem com um manual, você vai lendo as instruções conforme lê a vida dos outros, somente tenha cautela para não confundir contexto A com o B. A lucidez evita todos os males, e o caminhar evitar você de parar.
Eu vou continuar caminhando para não ter nenhum pretexto para parar, eu prefiro que seja não me apaixonando, não me iludindo e não me amarrando. Eu prefiro que seja leve como a brisa e tranquilo como o vento. Não se apaixonar te livra de ilusão, te leva a uma busca constante para a realidade.
Aos poucos eu fui trocando os romances por biografias de pessoas importantes na história, quando eu vi estava acompanhando todos os jornais, debatendo política semanalmente e lendo artigos que explicam o contexto econômico do continente.
Não foi algo que eu planejei, foi algo que foi acontecendo aos poucos, passei a enxergar os homens de forma não romântica e a vê-los de forma não afetiva e sim de coleguismo, e os mais próximos como amigos. Não criar expectativas e não esperar o tempo todo que sejam educados, românticos e principezinhos comigo me fizeram ser totalmente independente de paixão. Mesmo eu sabendo que não se deve dizer nunca, acredito que seja mais improvável para um adulto cair de paixões avassaladoras como fazem os adolescentes.
Na vida adulta você não vê o cara bonito e o imagina como o homem da sua vida, você vê o cara bonito e pensa: "Ah, é só mais um cara bonito", e segue sua vida, rema seu barco, cavalga no seu cavalo e vai para a frente, você pensa em mil e uma coisas e no final da tarde quase não lembra que viu um cara bonito na rua. Você finalmente nota que não se apaixona.

É complicado não pertencer mais ao lugar que antes nos cabia, é horrível você tentar de todas as formas se encaixar onde antes você se encaixava, e perceber que falta espaço, falta chão, falta teto, falta tudo o que antes você vivia sem e não sentia falta. Então você muda de emprego, muda de amigos, muda de rotina mas nada muda, aquela sensação de não pertencimento e de solidão assolam a sua vida. 

Você adota novos animais, faz novas viagens e quando volta bate aquela depressão, aquele desanimo e aquela vontade de jogar tudo para o ar e começar uma nova vida em um lugar diferente. Você tem vontade, você tem forças mas você não tem a zona de conforto de onde você está agora. E é isso que impede a gente de buscar novos caminhos, de se aventurar diante da vida e de correr novos riscos e também será isso que te fará sofrer de arrependimentos no futuro. 

Ás vezes a gente fica adiando nossos sonhos, nossos projetos e nossas metas com medo de não estarmos prontos o bastante ou de não sermos bons o suficiente para viver isso tudo. Então vemos pessoas menos capazes fazendo isso que nós tínhamos muito mais potencial para fazer. A diferença está em quem acredita e quem não.

Não é sobre ser bom o bastante, é sobre ser capaz o bastante de dizer não para todas as suas desculpas, de enfrentar de vez seus problemas e de procurar sair em busca de novos ares, novos horizontes e novas possibilidades. A vida é curta e é feita de escolhas, momentos que nenhum dinheiro no mundo irá comprar, memórias que só quem viveu sonhos é capaz de contar. 

Não espere que sua vida seja apenas normal, não espere chegar o próximo domingo, o próximo feriado, o próximo natal e o próximo ano novo para viver. Planeje e execute, olhe para você e veja muito mais do que todos veem. Ninguém será capaz de fazer nada por você a não ser você mesmo.

O espelho da sua visão sobre a sua vida se reflete sobre os seus passos. Você irá voar até onde puder enxergar, por isso, amplie sua visão e corra em busca de novos rumos mesmo que seja necessário deixar muitas coisas para atrás.

Sem palavras foi como ele me deixou quando o vi pela primeira vez. Talvez pelo excesso de argumentos ou pelo seu tom sarcástico de demonstrar conhecimento, ou quem sabe porque era proibido para mim.

Ele não se importava, ao menos parecia não fazer questão de esconder tudo aquilo que estava sentindo naquele momento, eram apenas desejos mas se fossem algo a mais ele não sabia interpretar. Tudo o que ele sabia era que mesmo com todo o impedimento que existia queria viver isso e viver isso poderia lhe custar muito. Não sabia qual era o meu ponto fraco porém procurava com toda a força, não sabendo que poderia já ter encontrado. E não sabendo que na vida eu também fazia o papel de atriz. 

Fiquei sem fôlego, confesso. Uma vez ao perceber o erro que estava cometendo ao lhe responder as mensagens, eu descobri em mim um ser que eu faria de tudo para esconder, não por ter maldades ou sensualidades e sim por não saber lidar com algumas emoções. 

Ele é profundo e ao mesmo tempo transparente, mesmo fazendo de tudo para se esconder, para se manter em secreto diante de alguém que conseguia perceber seus movimentos sem ao menos ter todas as suas palavras. 

Todos os seus jogos eu decorei, todo o seu enredo de querer se envolver mesmo sabendo que não podia, todo o seu ar de liberdade e de querer todo o mundo, tudo isso me disse sem ao menos me escrever. Eu conhecia o tipo dele, o jeito dele e até mesmo a sua típica abordagem de chegar aos poucos, de entrar aos poucos e de tentar me deixar envolvida, enrolada e sentida.

O Don Juan, o cara que é capaz de derrubar um boi com uma lábia, aquele que sabe enrolar, envolver e ao mesmo tempo deixar marcas nas mulheres que por ele são atraídas. Aquele cuja a vida põe em risco todas as vidas que por ele se apaixonam... Ele que possui a canalhice na doçura das palavras e o perigo nas atitudes. Ele cria um jogo e submete a todos, mas no seu jogo só sairá ganhando quem souber perder.


Com carinho,


ao Don Juan moderno.

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